Cervejarias não estão obrigadas a registro e recolhimento de anuidades a conselhos de engenharia ou química
Diversas cervejarias têm recebido notificações de conselhos
regulamentadores de profissões, especialmente do Conselho Regional de Engenharia
e Agronomia (CREA) e do Conselho Regional de Química (CRQ), a fim de que
realizem seu registro junto aos referidos órgãos e, consequentemente, passem a
realizar o recolhimento das anuidades.
Ocorre que há decisões judiciais favoráveis às empresas
cervejeiras, no sentido de que o registro junto a tais órgãos de fiscalização
profissional não é obrigatório e de que não são devidas as respectivas anuidades.
A legislação determina que a obrigatoriedade ou não de
registro junto aos órgãos de fiscalização profissional deve ser analisada a
partir da verificação da atividade econômica desenvolvida pela empresa ou
profissional. Nesse sentido, é o disposto no art. 1º da Lei nº 6.839/80:
Art. 1º. O registro de empresas e a anotação dos
profissionais legalmente habilitados, delas encarregados, serão obrigatórios
nas entidades competentes para a fiscalização do exercício das diversas
profissões, em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem
serviços a terceiros.
A legislação também prevê quais são as atividades
consideradas como privativas de determinados profissionais. No caso dos profissionais
afetos ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), é a Lei nº
5.194/1966, em seus artigos 1º e 7º, que traz esta previsão; já em relação ao Conselho
Regional de Química (CRQ), o Decreto 85.877/981, em seu artigo 2º, dispõe quais
as atividades privativas dos profissionais químicos.
Portanto, para determinar se há obrigatoriedade ou não de
uma determinada empresa manter registro e recolher anuidades a algum conselho
profissional, é preciso verificar se a atividade principal desempenhada pela
empresa se encaixa em alguma das hipóteses previstas na legislação como sendo
atividade privativa dos profissionais fiscalizados por este conselho.
No caso das cervejarias, como dito, há diversas decisões
judiciais declarando que a atividade por elas desempenhadas não corresponde a
atividade privativa de profissionais da engenharia ou químicos.
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região possui vasta
jurisprudência sobre o tema, já tendo reconhecido que a empresa que se dedica à
fabricação de cervejas “não desenvolve atividade fim ligada a engenharia,
tampouco tem prestação de serviços relacionados a este fim” (AC nº 5054402-50.2017.4.04.7000),
bem como que “a industrialização e comercialização de cervejas e chopes não
pode ser enquadrada como atividade própria de indústria química” (AC nº
5000514-02.2018.4.04.7108).
Portanto, as cervejarias não podem ser obrigadas a manter
registro e muito menos a recolher anuidades em favor dos conselhos
profissionais de engenharia ou de química.
Para afastar eventuais exigências indevidas por parte dos conselhos, é necessário que as empresas proponham uma ação judicial. Importante observar que as cervejarias podem ajuizar estas ações de forma preventiva, requerendo ao Judiciário que declare o seu direito de não serem autuadas pelos conselhos profissionais por ausência de registro ou recolhimento de anuidades.